domingo, 13 de março de 2016

PERTURB AÇÃO

Não consigo dormir.
E outra vez fico ouvindo os sons que invadem minhas cavidades auditivas. 


Histórias sobre excesso de tecnologia me perturbam, pois me sinto obrigada a ser toda essa tecnologia só por se jovem. 


Não consigo dormir de novo


Há anos eu não sei o que é ter uma noite de sono, de fato. 


Sinto como se algo de extrema importância estivesse prestes a acontecer, como em todas as outras vezes que não consegui dormir. 
Em todas as outras vezes fui enganada pelos sons da rua. 


Mas talvez desta vez eu esteja certa. 
Hoje é dia 31 de dezembro do ano de 2009, então é óbvio que algo importante acontecerá em breve. Mas não chega a ser extremo porque é consequência. 
E esse fato que é importante mas não extremo e acontecerá em breve, marca pra mim o fim de um período e o início de outro. Isso sim será extremo. 


O fim da adolescência e o início da vida adulta. 
Sobre a adolescência, sem comentários. 
Sobre a vida adulta, nada a declarar.


Apenas um fato não mudará: o fato de que não consigo dormir, independente da idade que eu tenha. 


Idade são apenas números que se não puderem ser lidos não farão sentido algum. 
Já os sons podem ter pra cada pessoa um interpretação diferente. Mas à mim esses sons só dizem que não consigo dormir. Dizem que meu corpo é uma bomba cheia de um liquido vermelho e gosmento, mais vivo que qualquer coisa em mim. Dizem que as paredes me prendem e que um dia, o dia que meu corpo explodir, elas prensarão também a minha alma nesses tijolos. 


Talvez seja por isso que eu não durma. 
Pelos rangidos que essas paredes fazem todas as noites e que somente eu consigo ouvir. Rangidos das almas dos corpos que explodiram porque não conseguiam dormir e ouviam os sons da rua. 


Mas não preciso dar ouvidos a nada disso porque toda vez que a luz azul da aurora bate na minha janela, eu adormeço. 
Não é um sono feliz, tampouco tranquilo. 
É apenas um sonho. 

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Crônica para uma desconhecida

As últimas semanas tem sido conturbadas. Algumas (in)decisões cruéis e aquelas tempestades absurdas por um vento que você (julga) muito fraco. Fora as obrigações, o trabalho, o Teatro, o vestibular, enfim. Eu precisava de um pouco de ar fresco e essa lufada de alívio veio na forma de uma desconhecida.

Estava pegando o trem, meu Kindle ali, exibindo as peripécias de Lisbeth Salander, quando uma menina sentou-se ao meu lado. “Bonito o seu Kindle”.

Agradeci, meio surpreso, meio sem graça. Ela continuou. “Tenho um também, ficou em casa. O que você tá lendo?”

Respondi, “A Rainha do Castelo de Ar, do Stieg Larsson”. Ela sorriu, mexeu na bolsa e tirou um Julio Verne. Viagem ao Centro da Terra.

Ela mostrou o livro na inocência, sem aquela vontade de parecer alguém melhor só porque lê um clássico. Foi minha vez de sorrir.

Continuamos falando bobagens por alguns minutos, até que eu me calei, olhei pro Kindle aberto. Ela não se importou, continuou falando e agitando as mãos. Falou meio que sua mãe não deixava ela ver “Os homens que não amavam as mulheres”, mas que ela não ia mais ligar porque já tinha dezoito anos e já prestava seus vestibulares. “Inclusive estou indo pra um agora.”

Perguntei qual o curso, qual faculdade. Ela respondeu, numa boa, um simples “Ah, tô na segunda fase da FGV.”

Não tinha ideia de como era esse vestibular. Ela explicou dizendo que essa etapa era composta por uma prova oral. “Me deram uma lista enorme de livros e documentários pra ler. Maior até que a da Fuvest, do ENEM, da Puc…”

“Você fez esses todos?”, surpreso, perguntei o óbvio. 

“Sim! E não sei se vou passar em algum. Tomara que eu consiga a bolsa na FGV. Uma bolsa deles não é de se jogar fora.”

Nós conversamos um pouco mais, até que precisei avisá-la que já estávamos em Pinheiros e que ela precisava saltar. “Nossa, já chegamos? Mas foi muito rápido!”

E foi mesmo. Ela desceu, e toda atrapalhada, subiu as escadas rolantes. Fiquei observando-a até que o trem lembrou que precisava prosseguir. Agradeci mentalmente ao maquinista pelos segundos a mais que me permitiu observar a nova amiga, que aliás, não disse seu nome, assim como eu não disse o meu.

E isso foi muito legal. Conversamos como amigos de muito tempo, sem preocupações. Não flertamos, não existiu presunção de nenhum lado. Foi uma conversa tranquila, saudável, revigorante. Exatamente o que eu precisava depois de tantos dias vivendo numa panela de pressão.


Querida desconhecida amiga, muito obrigado pela conversa. Na remota possibilidade de você ler esse texto em algum lugar, saiba que estou torcendo por você. Tomara que seja aprovada, em todos esses vestibulares da vida.

domingo, 29 de novembro de 2015

PAZ CONSENTIDA
Hoje eu acordei em paz, acordei com bandeiras branca em mãos. Decidi pela paz consentida, pela paz comedida, não há discussão, não há achismo e não há opinião. Meus olhos estão voltados às paisagens e de hoje assim quero para sempre e para mim.
Não me perguntem nada, pois não há e nem haverá respostas, o que existe é um brilho carregado de um sorriso perdido, porém, pleno. O mundo não é meu e também não sou da manutenção, desempenhem seus papéis com a certeza de um a menos para militar contra, cubram-se de confetes, pesem na maquilagem, exagerem no fotoshop, por favor fotos ostensivas, altruísmo desmedido e egoísmo também... Já não me importo, já não quero mostrar outros caminhos, pois aonde levariam estes caminhos tão meu?
Minha paz cinza, minha paz tão construída, minha paz diferente e tão igual, minha paz que expõe a verdade como mentira e a mentira como verdade, minha paz sem absoluto e Absoluto não cabe em meu dicionário!

sábado, 21 de novembro de 2015

Viva ao feio!

Afinal por que não posso achar bonito o que chamam de trash? Qual o problema em fumar o bom e velho Eight? Velho Barreiro é a melhor cachaça de até 10 reais que tem. Gosto dos trens quando eles cheiram a mofo. Metrô consegue ser ainda melhor, como se tivessem tirado um vagão das profundezas da terra úmida só para me levar até o trabalho. Ou então que muita gente suada tivesse se esfregado em cada parte dele e seu suor, ao secar, gerasse o cheiro de mofo. Gosto de pisos de madeira velha, aqueles tacos pesados que em cinco anos de uso se soltam e viram um buraco de pó dentro do apartamento. Ah, e os apartamentos? Esses antigos do centro velho de São Paulo? Esses são meus preferidos. As janelas encardidas de anos de fuligem e ar altamente poluído. Desde o odor de urina nas calçadas até o cheiro de sujeira nas escadas. As portas são encardidas, especialmente perto das maçanetas. As torneiras já tem tantos anos que colorem a água de marrom devido ao ferrugem. O cheiro é especial. Cheiro que demorou anos para maturar, cheiro de todas as pessoas que por lá já viveram. Os apartamentos antigos são fascinantes, até suas goteiras e vazamentos são charmosos.
Gostar do que é feio vai além do que pode ser visto. Por exemplo, musica. Tenho ouvido muita musica que me faz pensar sobre o porquê delas não serem populares como deveriam pois falam de rotina ou pelo menos de pensamentos rotineiros. Com linguajar fácil e termos normais que usamos no dia a dia. "Quando você mija, você lava as mãos, antes ou depois, antes e depois ou nem antes nem depois?" A simplicidade com que essas perguntas e temas rotineiros como "bater punheta", "cagar em banheiro público" e "apanhar na rua" faz com que eu goste das músicas por entender que minha rotina rendeu boas músicas. Minha rotina é importante sim, inspira, sim! Acabamos aprendendo depois de anos dando murro em ponta de faca que na verdade as coisas não são perfeitas quanto deveriam ser quando compramos a ideia. Uma caixa de som remendada com fita isolante, não necessariamente é uma caixa de som ruim, não está perfeita como a ideia original, mas ela funciona e está lá. Temos a impressão de que as ideias que compramos tem de ficar intactas e perfeitas, mas elas mudam, como nós. E aí não dá pra ignorar, é uma ideia, você abraçou aquilo, mesmo que mude da ideia original, ela é sua! Viva ao feio, viva ao trash, viva as coisas entediantes, as rotineiras, aos detalhes dessas coisas.

A felicidade nunca é plena. Ela vem em pequenas doses diárias que devem ser bebericadas como o mais nobre dos vinhos.

domingo, 1 de novembro de 2015

Falta de Compreensão e Intolerância do povo brasileiro
"Pesquisas apontaram que o povo brasileiro está mais propenso a agir por emoção do que razão"
O brasileiro é um eterno adolescente rebelde e sem causa, já aprendemos a identificar alguns problemas sejam estes, políticos, familiares ou sociais, no entanto, ainda existe a necessidade de compreender a natureza do problema e a medida racional para lidar com este.
Sobre racionalidade e emocional verdadeiramente somos compostos por estes, exatamente por este fator devemos fazer uso dos dois em momentos de análises e atitudes a serem tomadas diante de um problema.
Há situação instalada que muita das vezes nem é tida como problema, mas para se chegar a esta conclusão, razão e emoção foram usadas de forma moderada ou não, mas ambas foram usadas. Repare que a atitude por vezes é a inércia.
Alguns exemplos de incompreensão e intolerância:
*Alguns lideres religiosos manifestaram-se dizendo ser a favor da família, pois envolve todo um contexto cristão e seus princípios, onde homem e mulher são responsáveis pela continuação da espécie, em nenhum momento proferiram abominações ao homossexualismo, mas como resultado alguns grupos de homossexuais entenderam isso como ofensa e se manifestaram das maneiras mais absurdas e ofensivas.
*A aprovação por lei do casamento gay gerou revolta na sociedade cristã, como se deste momento em diante todos os casamentos à seguir serão de pessoas do mesmo sexo, logo protestantes se manifestaram da pior maneira e em nome de "Deus" contra os homossexuais.
*O país segue economicamente estacionado devido a corrupção, falta de articulação e planejamento político, o Estado é composto por 35 partidos, mas o povo considera a Dilma e o PT como únicos culpados pela corrupção e regressão do país, gritam palavras de ordem contra a atual presidente, analisam apenas seus erros como se nada mais existisse além de erros em seu governo. (incompreensão+intolerância+posição política seletiva)
Enquanto não deixarmos de lado um pouco a emoção ou então usá-la junta da razão... não iremos evoluir em nenhum aspecto. Temos tudo para evoluir basta apenas usarmos mais nosso lado racional.
A vida precisa ser composta por equilíbrio, o bolo é doce, mas tenha certeza que este contem sal.

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

LIBERDADE BUROCRÁTICA

As pessoas esbravejam suas liberdades, gritam aos quatro cantos da terra "eu sou livre", mas existe mesmo essa tal liberdade?
Para mim, liberdade é fazer e dizer tudo aquilo que têm vontade sem pestanejar, sem delongas, sem pensar no que pensarão ou quais serão as consequências. E ai, ainda acredita ser livre?
Em nenhum momento falamos ou somos tudo o que queremos, quando o indivíduo nasce já está no pacote do nascimento a coerção da sociedade, talvez a criança até um certo período seja livre por totalidade, pois a roupa que veste, a correção que sofre por palavras pronunciadas erradas, ou o castigo que recebe por proferir palavras "feias" vem dos adultos, ou seja, a sanção da sociedade, a sociedade moldando e alterando mais uma vida que se iniciou de forma livre.
Repare que para criança não há distinção de sexo, raça e religião, o que existe de fato é um mundo com muitas perguntas em suas cabeças e logo a sociedade se encarrega de responde-las de maneira sempre contida, comedida, burocrática...
Na pré adolescência já não há mais a simplicidade, a inocência e a liberdade foram subtraídas, superadas... O indivíduo se preocupada com a aparência, as meninas passam horas na frente do espelho, se vestem segundo sua artista predileta, os meninos fumam, andam de skate, falam palavrões, ou seja, precisam se impor, precisam fazer parte de um grupo, mesmo que todo ato não corresponda ao que realmente de fato queiram pra si.
Superada a adolescência seguimos para a fase adulta, nesta o indivíduo já está experiente, já sabe mentir, sorrir quando não quer, vai a lugares por imposição, mas com cara de gente feliz, se articula nas redes sociais de forma comedida, cursa ensino superior voltado para o mercado de trabalho e não para seu interesse, casa-se tem filhos, mas possui relacionamento extraconjugal as margens é claro da sociedade e no meio desse turbilhão de coisas bate no peito e se diz "livre", a liberdade é sua sina...
O que temos de fato é uma liberdade contratual, ou seja, o que diz as partes, qual o interesse da sociedade? Seria uma supressão da palavra liberdade que da lugar a palavra burocracia, que pode ser facilmente substituída num viés sensacionalista por hipocrisia, sensacionalista pelo simples fato de que o mundo é assim desde o momento que o primeiro homem não se viu mais sozinho.